Introdução
Os relacionamentos amorosos podem ser considerados um tema presente em vários contextos, desde conversas informais do cotidiano até livros, filmes e músicas, uma vez que afetam diversas áreas da vida humana. Enquanto uma das modalidades de relacionamento interpessoal, possuem teorias que têm sido propostas objetivando explicar e conceituar as variáveis que a ela integram (Alferes, 2004; Berscheid & Walster, 1973; Hatfield & Rapson, 1987). De acordo com Alferes (2004) podem ser conceituados como sendo uma das formas de relações interpessoais dotadas de significação especial e se juntam na capacidade de discriminar, de maneira positiva ou negativa, as situações de interação. Mais especificamente, relações amorosas envolvem sentimentos considerados importantes em uma relação afetiva, tais como o amor, companheirismo, a igualdade, o sexo e a procriação (Matos, Féres-Carneiro, & Jablonski, 2005).
Ocorrem, de forma geral, mediante o desenvolvimento de um sentimento amoroso (amor) por determinado indivíduo, sendo tal sentimento uma das mais intensas emoções humanas (Sternberg & Grajek, 1984), e um tipo específico de atração interpessoal (Alferes, 2004), também considerado fundamental para uma relação amorosa de sucesso (Cassepp-Borges & Teodoro, 2007). Atualmente, o amor é visto como fundamental para um relacionamento amoroso satisfatório, sendo considerada condição primordial para a ocorrência do matrimônio. É creditada tamanha importância no sentimento do amor que o fim deste sentimento é visto como uma condição justa para o término do relacionamento amoroso (Matos et al., 2005).
Escolha de parceiros no relacionamento amoroso
Diversos mecanismos envolvidos nos relacionamento amorosos têm sido estudados, visando esclarecer sua estrutura, causas e efeitos, tais como o amor (Silva et al., 2005; Sternberg & Grajek, 1984) e a sexualidade (Byrne, 1986; Kaplan, 1977; Wilson, 1978), por exemplo. Dentro do rol de pressupostos que adentram as relações amorosas, a escolha de parceiros merece destaque, uma vez que se apresenta como fator fundamental no estabelecimento destas relações. De acordo com Angelo (1995), a escolha de parceiros apresenta-se como uma estratégia sutil e sofisticada, em que a atenção é culturalmente induzida para se observar elementos específicos de interesse no aspecto ou comportamento de determinada pessoa.
Para Buston e Emlen (2003), pessoas escolhem seus parceiros mediante características físicas e sociais semelhantes. As qualidades mais desejadas em um parceiro são aquelas que mais se observam em si mesmas, uma vez que se relacionam às experiências individuais, não se restringindo apenas às características dos possíveis pretendentes (Borrione & Lordelo, 2005).
A escolha de parceiros entre homens e mulheres possuem critérios diversificados. Estudos realizados (Buss & Barnes, 1986; Kenrick, Sadalla, Groth, & Trost, 1990) apontaram que, para mulheres, critérios como amizade, inteligência, criatividade, senso de humor, estabilidade emocional, posição social e nível de escolaridade são importantes na escolha de parceiros. Para o sexo masculino, embora valorizem os critérios apontados pelas mulheres, apontam a beleza como a mais importante. Kenrick e colaboradores (1990) apontam que mulheres são mais criteriosas nas escolhas de parceiros em qualquer nível de relação, enquanto os homens o são para a escolha de parceiros em relacionamentos duradouros. Ressalta-se que tais estudos enfatizam a escolha de parceiros para fins de casamento ou para relações mais duradouras.
Hatfield e Rapson (1996) propõem a hipótese de que as pessoas possuem esquemas de amor. Tais esquemas são um conjunto de noções, valores e atitudes sobre relacionamentos íntimos, que influencia na escolha de parceiros em relações amorosas.Os esquemas são multifatoriais, uma vez que são moldados nas primeiras experiências infantis (Scharfe & Bartholomew, 1994), perpassam a adolescência (Erikson, 1982) e seguem nas experiências afetivas da vida adulta (Cassidy & Shaver, 1999; Hatfield & Rapson, 1996). As experiências românticas também estruturam as atitudes frente a ela, tornando os indivíduos mais (ou menos) flexíveis às adversidades decorrentes de relacionamentos amorosos. A interação entre os parceiros influencia nos comportamentos apresentados nas relações amorosas, uma vez que as pessoas podem agir de formas diferentes em relacionamentos amorosos diferentes (Hatfield et al., 2007).
Beleza física, representações sociais e corpo
Dentre os elementos que fazem parte do rol de fenômenos que podem influenciar um relacionamento, a beleza física configura-se como construto central na gênese deste tipo de relacionamento interpessoal. Adota-se nesta pesquisa a conceituação de beleza como sendo um atributo inerente ao corpo (Ferreira, 2004), sendo esta uma qualidade atribuída a um corpo (Le Pape, 2006) por um indivíduo ou uma sociedade, partindo do pressuposto de que uma imagem que agrada a um determinado grupo social torna-se um molde que influencia um grupo e é reproduzido (Andrieu, 2006).
É socialmente considerado que pessoas consideradas fisicamente bonitas possuem atributos que as diferenciam das demais, tais como: são mais populares, inteligentes, confiantes, sexualmente excitantes, experientes, com maior oportunidade de flertes e de ter amigos, dentre outros benefícios (Etcoff, 1999). Tendo em vista que a aparência é a parte mais pública da pessoa, os padrões de beleza adentram na temática como sendo as proporções e aspectos físicos considerados atrativos sexualmente, atuando diretamente nas representações sociais da beleza, uma vez que se difundem modos de comportamento e pensamento em relação aos padrões corporais (Camargo, Goetz, Bousfield, & Justo, 2011), interferindo tanto nas atitudes frente à beleza quanto na forma como as pessoas relacionam-se em suas interações sociais.
Moscovici (1978) define as representações sociais (RS) como sendo um conjunto de afirmações, conceitos e explicações que formam uma teoria do senso comum, inserida no universo das opiniões e conceitos dados aos fenômenos do cotidiano. Jodelet (2001) enfatiza que as representações sociais são uma forma de conhecimento elaborado e partilhado socialmente, com um objetivo prático, convergindo para a construção de uma realidade comum a um grupo social sobre um determinado objeto. A partir destas representações, pode-se acessar a maneira como indivíduos compreendem determinado fenômeno e quais atitudes tomam frente ao mesmo, atuando como um guia para a ação (Abric, 1998).
A teoria das representações sociais tem contribuído nos estudos sobre o corpo, enfatizando a importância do conhecimento socialmente partilhado na valorização do corpo e na importância da beleza e da saúde (Jodelet, 1994). Com relação aos estudos sobre RS da beleza, poucos são voltados exclusivamente ao tema. Contudo, tendo em vista que a beleza pode inserir-se nos estudos sobre as representações sociais do corpo, alguns estudos merecem destaque.
Num estudo sobre RS do corpo, realizado por Jodelet, Ohana, Bessis-Moñino e Dannenmüller (1982), foram definidas três categorias relacionadas a essas representações. São elas: a) funcionalidade do corpo (cuidado com a saúde, juventude e forma, equilíbrio físico e psíquico e conservação da aparência estética); b) considerações morais (não descuidar do corpo, disciplina, boa vontade, controle, respeitar a si mesmo e o outro); e c) narcisista (ênfase no prazer pessoal e do outro, intenção sedutora e preocupação em possuir uma aparência que seja favorável nas relações sociais).
Em pesquisa realizada por Camargo, Goetz, Barbará e Justo (2007) sobre representações sociais da beleza para estudantes de Educação Física e de Moda, a RS da beleza mais compartilhada refere-se à imposição de padrões socialmente estabelecidos, nos quais a beleza apresenta-se como primeiro aspecto na formação da impressão inicial entre pessoas, resultado também verificado em outro estudo, voltado exclusivamente aos estudantes de Moda (Camargo, Goetz, & Barbará, 2005). Já num estudo sobre percepção da imagem e representações sociais do corpo com estudantes de Educação Física, Moda e Psicologia (Secchi, Camargo, & Bertoldo, 2009), verificaram-se as RS contextualizadas em três eixos: 1) a importância da expressão corporal e da aparência nas relações pessoais; 2) a saúde corporal e a beleza atrelam-se às práticas de exercícios físicos, bem como a aparência magra e; 3) a aparência enquanto forma de apontar as potencialidades do indivíduo em sua vida pessoal e profissional.
Vilas Bôas (2012) pesquisou as representações sociais de estudantes universitários dos cursos de Educação Física, Artes e Exatas, sobre beleza e cirurgia estética. A beleza masculina foi associada à inteligência e beleza, relacionando a imagem do homem bonito, inteligente e forte, enquanto a beleza feminina associa-se a características físicas e subjetivas, ou seja, a aparência e características corporais em conjunto com a sensualidade, inteligência e simpatia. Braga, Molina e de Figueiredo (2010) em pesquisa sobre RS do corpo para adolescentes de classes populares, verificaram a percepção de corpodirecionada para a proporcionalidade, normalidade e perfeição, sendo o corpo forte e musculoso o padrão de beleza masculino, e o cuidado com as roupas, o cabelo, a pele e estar na moda para as mulheres.
A relação das RS com conteúdos midiáticos sobre o corpo também foram estudados. Temas como RS do corpo na mídia impressa (Goetz, Camargo, Bertoldo, & Justo, 2008), RS do corpo, mídia e atitudes (Goetz, 2009) e conteúdos midiáticos sobre o corpo (Conti, Bertolin, & Peres, 2010) indicaram que grande parte das ideias sobre o corpo (aparência magra, corpo jovem, produzido e remodelado) se relacionam com os meios de comunicação, trazendo a ideia de corpo enquanto “produto” a ser consumido, além de associar saúde e beleza à dimensão do corpo magro, associando práticas de saúde que levam à beleza corporal.
Através das pesquisas apresentadas, corrobora-se com o que postula Shohat e Stam (1996) de que padrões sociais, quando associados à beleza física, evidenciam status, prestígio e aceitação social. Dessa forma, observa-se um panorama de pesquisas científicas que sustentam a noção do quanto o fenômeno do corpo e da beleza influenciam tanto as interações sociais quanto a relação do indivíduo consigo mesmo, incentivado por normas e práticas sociais que norteiam tais condutas.
Sendo um fenômeno dotado de significados, impressões e valores, que perpassam desde o nível individual ao social, a beleza sua influência nas relações amorosas podem ser compreendidas à luz da teoria das representações sociais (TRS), tendo em vista sua capacidade de integrar as dimensões individuais àquelas que são socialmente partilhadas, influenciando o modo de compreender e se relacionar com a realidade (Jodelet, 1994).Tendo em vista tais considerações, objetiva-se com este estudo investigar a relação das representações sociais da beleza física no estabelecimento de relacionamentos amorosos, para modelos fotográficos e não modelos1.
Método
Trata-se de uma pesquisa com delineamento descritivo e comparativo (Gil, 1995). Também se caracteriza pelas seguintes especificidades: transversal e de amostragem intencional (Marconi & Lakatos, 2007).
Participantes
Participaram 120 indivíduos, com média de idade de 22,8 (DP = 4,27), distribuídos de modo equivalente entre homens e mulheres, sendo 60 deles fazendo parte do grupo que atuam como modelos fotográficos, e outros 60 com indivíduos que cursam algum curso de Ciências Exatas ou Tecnológicas, fazendo parte do grupo de não modelos. Buscou-se contrastar as respostas dos participantes com maior e menor proximidade frente ao fenômeno “beleza física”, a partir de seu vínculo profissional. A variável “sexo” também foi controlada, uma vez que as respostas contêm diferenciações, de acordo com o sexo do participante.
A escolha do grupo de modelos fotográficos atentou-se ao fato desta categoria estar mais direcionada ao tipo de beleza padrão vigente na sociedade, envolvendo trabalhos voltados a revistas e catálogos, enquanto existem outros tipos de trabalhos para modelos, como modelos fashion e/ou de passarela (que objetivam mostrar tendências de moda, sendo estas fisicamente mais magras). A escolha de respondentes do grupo de não modelos deveu-se ao fato de manterem um tipo diferente de conexão com a temática da beleza física, com um distanciamento maior deste objeto em suas atividades profissionais.
Instrumento
Foi utilizado um questionário online autoaplicável de respostas fechadas, a seguir: a) Dados sobre os relacionamentos amorosos dos participantes (tipo de relação amorosa vivida atualmente e quantidade de relacionamentos amorosos estáveis já vividos); b) A partir de uma definição operacional de relação amorosa, nova verificação da quantidade dos relacionamentos já vividos; c) Instrumento de identificação de elementos sobre as RS de “relacionamentos amorosos”: composto por vinte elementos: “amor, companheirismo, sedução, necessidade, desconfortável, compromisso, fidelidade, inteligência, infidelidade, atração física, posição social, prisão, estabilidade econômica, ruim, senso de humor, segurança, beleza, sexo, semelhança e mentira”, originados de estudos anteriores (Barbará & Bertoldo, 2006; Borrione & Lordelo, 2005; Buss & Barnes, 1986; Gomes & Caramaschi, 2007; Kenrick, Sadalla, Groth, & Trost, 1990) em itens seguidos de uma escala de cinco pontos, em que os participantes associaram tais palavras com a palavra desencadeadora “relações amorosas”; d) Índice de polaridade de elementos sobre RS de relações amorosas: a partir dos vinte elementos do instrumento de identificação, solicitou-se que lhes fosse atribuído uma valoração positiva ou negativa para cada palavra escolhida; e) Instrumento de importância de elementos associados à relacionamentos amorosos: escolha de 10 elementos mais importantes; f) Instrumento de afirmações sobre a influência da beleza física no estabelecimento de relacionamentos amorosos: apresentou-se 10 afirmações que retrataram concepções diversificadas sobre a temática, onde os participantes responderam, por meio de uma escala de concordância de 5 pontos; g) Questões sócio-demográficas: idade; sexo; escolaridade e atividade profissional.
Procedimentos e aspectos éticos
Foi realizado um contato inicial – por meio de e-mail e contato pessoal - com agências de modelos e as coordenações dos cursos de graduação, visando explicar os objetivos da pesquisa e obter a liberação para ter acesso aos participantes. Foi realizado um estudo piloto com o instrumento online, com 20 voluntários, objetivando verificar se o questionário respondia aos objetivos da pesquisa.O pesquisador entrou em contato com os modelos, a partir dos contatos disponibilizados pelas agências de modelos. Com relação ao grupo de acadêmicos, foi realizado o convite aos participantes em sala de aula, explicando os objetivos da pesquisa e entregando um cartão no qual havia o endereço online para acessar a pesquisa.
Os participantes, antes de iniciar o questionário online, tiveram acesso a algumas informações sobre a pesquisa, e a garantia do sigilo das informações, mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (que compôs o questionário). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina, sob parecer n. 242.985.
Análise de Dados
Realizou-se análise estatística descritiva (média, desvio padrão, distribuição de frequências) e relacional (teste do Qui-quadrado, teste-t de Student). Os dados foram analisados com o software SPSS (versão 17.0). Nos resultados presentes nas Tabelas 2 e 4, calculou-se o teste t com igualdade de variância não assumida (teste de Levene para igualdade de variâncias), sendo arredondados os valores dos gl.
Resultados
A média de idade dos participantes masculinos é de 24 anos, e dos participantes femininos de 21 anos e meio. Os modelos são um pouco mais velhos que os não modelos, mas a diferença é pequena.
Conforme a Tabela 1, as mulheres se distribuem de modo mais polarizado entre estar namorando ou não, diferente dos homens que se dividem em três condições, as duas anteriores e a de ficar com mais de uma pessoa. O mesmo acontece com não-modeles e modelos, os primeiros com uma distribuição mais próxima das mulheres e os segundos dos homens.
Tabela 1
Tipo de relacionamento amoroso | Sexo
|
Grupos
|
||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Masc.
|
Fem.
|
Modelo
|
Não modelo
|
|||||
f | % | f | % | f | % | f | % | |
Namorando | 17 | 28,3 | 26 | 43,3 | 18 | 30,0 | 25 | 41,7 |
Ficando | 8 | 13,3 | 7 | 11,7 | 10 | 16,7 | 5 | 8,3 |
Ficando com mais de uma pessoa | 15 | 25,0 | 3 | 5,0 | 17 | 28,3 | 1 | 1,7 |
Casado(a) | 1 | 1,7 | 4 | 6,7 | 3 | 5,0 | 2 | 3,3 |
Não estou num relacionamento atualmente | 19 | 31,7 | 20 | 33,3 | 12 | 20,0 | 27 | 45,0 |
Total | 60 | 100,0 | 60 | 100,0 | 60 | 100,0 | 60 | 100,0 |
Solicitou-se que os participantes relatassem a quantidade de relacionamentos amorosos que já tiveram. Após este primeiro momento, lhes foi solicitado, a partir de uma definição operacional de relacionamento amoroso, que repensassem sobre a quantidade de relacionamentos amorosos citados. A média inicial de relacionamento amoroso do sexo masculino foi de 2,28 (DP = 2,75), e após a frase diminuiu para 1,83 (DP = 1,41). Uma diminuição também ocorreu com o sexo feminino, de 2,30 (DP = 2,31) para 2,28 (DP = 7,59). Não houve muitaalteração nas médias, o que sugere que a concepção de relacionamentos amorosos estáveis é mais restrita, havendo maior homogeneidade nos valores e crenças a respeito deste tipo de relacionamento interpessoal entre os gêneros.
O grupo de modelos apresentou um escore inicial de 2,98 (DP = 3,46) e após a frase sua média ficou 2,55 (DP = 2,02). Para o grupo de não modelos, a média inicial foi de 1,60 (DP = 1,21) e, após a frase, foi de 1,57 (DP = 1,15). Assim como ocorreu com as médias por sexo, não houve diminuição significativa nas médias relativas a esta questão.
Instrumento de identificação
Sobre a identificação dos participantes acerca dos elementos que compõem as representações sociais de relacionamentos amorosos, a média geral foi de 3,19 (DP = 0,95), sendo que foram observadas diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) entre as médias por sexo, atribuídas aos elementos: “insegurança” e “desconfiança”. Com relação aos grupos de modelos e não modelos, os elementos que apresentaram diferença estatisticamente significativa foram: “beleza física” e “senso de humor”, como pode ser verificado na Tabela 2.
Os elementos com maior identificação foram semelhantes entre os sexos e grupos, a não ser o elemento “beleza física”, que não obteve alta identificação para o grupo de não modelos. Os demais elementos foram: “amor”, “companheirismo”, “sedução”, “compromisso”, “fidelidade”, “inteligência”, “paixão”, “senso de humor”, “intimidade”, “relação sexual” e “semelhança”.
Tabela 2
Dimensões de Relacionamentos Amorosos | Sexo
|
Grupo
|
||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Masc.
|
Fem.
|
t | gl | p | Modelo
|
Não-Modelo
|
t | gl | p | |||||
M | DP | M | DP | M | DP | M | DP | |||||||
Amor | 4,62 | 0,88 | 4,58 | 0,92 | -0,20 | 117 | 0,84 | 4,53 | 1,11 | 4,67 | 0,63 | 0,81 | 93 | 0,42 |
Companheirismo | 4,67 | 0,84 | 4,68 | 0,87 | 0,10 | 117 | 0,91 | 4,60 | 0,98 | 4,75 | 0,70 | 0,96 | 107 | 0,33 |
Desconforto | 1,33 | 0,81 | 1,53 | 1,04 | 1,16 | 111 | 0,24 | 1,38 | 1,04 | 1,48 | 0,83 | 0,58 | 112 | 0,56 |
Sedução | 4,02 | 0,83 | 4,13 | 0,87 | 0,75 | 117 | 0,45 | 4,13 | 1,09 | 4,02 | 0,81 | 0,75 | 117 | 0,45 |
Infidelidade | 1,37 | 0,76 | 1,65 | 1,11 | 1,62 | 104 | 0,10 | 1,58 | 1,01 | 1,43 | 0,72 | 0,85 | 108 | 0,39 |
Compromisso | 4,60 | 0,89 | 4,60 | 0,89 | 0,00 | 118 | 1,00 | 4,52 | 0,98 | 4,68 | 0,71 | 1,03 | 106 | 0,30 |
Fidelidade | 4,65 | 0,86 | 4,67 | 0,86 | 0,10 | 118 | 0,91 | 4,58 | 0,97 | 4,73 | 1,13 | 0,96 | 107 | 0,34 |
Inteligência | 3,63 | 0,96 | 3,82 | 1,14 | 0,10 | 118 | 0,91 | 3,78 | 0,69 | 115 | 0,49 | 0,34 | 115 | 0,73 |
Paixão | 4,33 | 0,84 | 4,48 | 0,72 | 1,05 | 115 | 0,29 | 4,37 | 1,26 | 4,45 | 1,23 | 0,58 | 117 | 0,56 |
Insegurança | 1,60 | 0,94 | 2,18 | 1,26 | 2,85 | 109 | 0,005 | 1,93 | 0,93 | 1,85 | 0,93 | 0,39 | 114 | 0,69 |
Beleza física | 3,75 | 1,31 | 3,30 | 1,30 | 1,88 | 118 | 0,06 | 4,40 | 1,03 | 2,65 | 0,85 | 9,66 | 105 | < 0,001 |
Prisão | 1,35 | 0,82 | 1,57 | 1,09 | 1,23 | 109 | 0,22 | 1,53 | 0,80 | 1,38 | 0,63 | 0,85 | 111 | 0,40 |
Estabilidade econômica | 2,13 | 1,17 | 2,53 | 1,29 | 1,77 | 117 | 0,08 | 2,32 | 1,26 | 2,35 | 1,23 | 0,14 | 117 | 0,88 |
Desconfiança | 1,40 | 0,72 | 1,75 | 1,08 | 2,08 | 102 | 0,04 | 1,48 | 0,93 | 1,67 | 0,93 | 1,08 | 118 | 0,28 |
Senso de humor | 3,95 | 0,94 | 4,15 | 0,99 | 1,13 | 117 | 0,26 | 3,85 | 1,03 | 4,25 | 0,95 | 2,30 | 113 | 0,02 |
Intimidade | 4,78 | 0,64 | 4,73 | 0,80 | -0,38 | 112 | 0,70 | 4,72 | 0,80 | 4,80 | 0,63 | 0,63 | 111 | 0,53 |
Desinteresse | 1,37 | 0,90 | 1,40 | 0,90 | 0,20 | 118 | 0,84 | 1,33 | 0,89 | 1,43 | 0,91 | 0,60 | 117 | 0,54 |
Relação sexual | 4,33 | 0,79 | 4,28 | 1,07 | -1,55 | 108 | 0,12 | 4,52 | 0,91 | 4,32 | 0,98 | 1,15 | 117 | 0,25 |
Semelhança | 3,40 | 0,96 | 3,57 | 1,17 | 0,85 | 113 | 0,39 | 3,48 | 0,95 | 3,48 | 1,17 | 0,00 | 113 | 1,00 |
Mentira | 1,27 | 0,75 | 1,47 | 0,91 | 1,31 | 114 | 0,19 | 1,40 | 0,96 | 1,33 | 0,70 | 0,43 | 108 | 0,66 |
Os resultados apresentados apontaram diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) entre as médias por sexo, frente aos elementos “desconfiança” e “insegurança”. O elemento “insegurança” apresentou diferença estatisticamente significativa, de acordo com o teste t de Student, t(109) = 2,85; p < 0,01, com a média superior do sexo masculino em relação ao sexo feminino. Já o elemento “desconfiança” apresentou diferença estatisticamente significativa, de acordo com o teste t de Student, t(102) = 2,08; p < 0,05, com média superior do sexo feminino em relação ao masculino.
Com relação ao grupo, o elemento “senso de humor” apresentou diferença estatisticamente significativa, segundo o teste t de Student, t(113) = 2,30; p < 0,05, com média superior do grupo de não modelos em relação ao grupo de modelos, segundo Tabela 2. Os resultados atribuídos ao elemento “beleza física” constatou a relação entre o grupo e a medida de identificação, sendo que o grupo de modelos apresentou média superior ao grupo de não modelos, com diferença estatisticamente significativa, de acordo com o teste t de Student, t(105) = 9,66; p < 0,001, explicando assim que tal elemento representa um aspecto fundamental no estabelecimento de relacionamentos amorosos para o grupo de modelos.
Índice de polaridade
A Tabela 3 apresenta a percentagem relativa às respostas provenientes das polaridades dos elementos relacionados ao termo indutor “relacionamento amoroso”. Observa-se concordância quanto a polaridades positiva e negativa na maior parte dos elementos, tanto entre os sexos quanto em relação aos grupos de modelos e não modelos.
Tabela 3
Dimensões de Relacionamentos Amorosos | Sexo
|
Grupo
|
||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Masc.
|
Fem.
|
Modelo
|
Não-Modelo
|
|||||
+ | - | + | - | + | - | + | - | |
Amor | 98,3 | 1,7 | 100,0 | 0,0 | 98,3 | 1,7 | 100,0 | 0,0 |
Companheirismo | 98,3 | 1,7 | 100,0 | 0,0 | 98,3 | 1,7 | 100,0 | 0,0 |
Desconforto | 1,7 | 98,3 | 0,0 | 100,0 | 1,7 | 98,3 | 0,0 | 100,0 |
Sedução | 96,7 | 3,3 | 98,3 | 1,7 | 98,3 | 1,7 | 96,7 | 3,3 |
Infidelidade | 1,7 | 98,3 | 0,0 | 100,0 | 1,7 | 98,3 | 0,0 | 100,0 |
Compromisso | 96,7 | 3,3 | 98,3 | 1,7 | 95,0 | 5,0 | 100,0 | 0,0 |
Fidelidade | 96,7 | 3,3 | 98,3 | 1,7 | 95,0 | 5,0 | 100,0 | 0,0 |
Inteligência | 98,3 | 1,7 | 96,7 | 3,3 | 96,7 | 3,3 | 98,3 | 1,7 |
Paixão | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 |
Insegurança | 0,0 | 98,3 | 5,0 | 95,0 | 1,7 | 98,3 | 1,7 | 98,3 |
Beleza física | 96,7 | 3,3 | 86,7 | 13,3 | 86,7 | 13,3 | 86,7 | 13,3 |
Prisão | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 |
Estabilidade econômica | 78,3 | 1,7 | 78,3 | 1,7 | 71,1 | 28,9 | 98,3 | 1,7 |
Desconfiança | 1,7 | 98,3 | 0,0 | 100,0 | 1,7 | 98,3 | 0,0 | 100,0 |
Senso de humor | 98,3 | 1,7 | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 98,3 | 1,7 |
Intimidade | 98,3 | 1,7 | 100,0 | 0,0 | 96,7 | 3,3 | 100,0 | 0,0 |
Desinteresse | 0,0 | 100,0 | 1,7 | 98,3 | 0,0 | 100,0 | 1,7 | 98,3 |
Relação sexual | 100,0 | 0,0 | 96,7 | 3,3 | 98,3 | 1,7 | 98,3 | 1,7 |
Semelhança | 96,7 | 3,3 | 91,7 | 8,3 | 93,3 | 6,7 | 95,0 | 5,0 |
Mentira | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 | 0,0 | 100,0 |
Instrumento de importância
Buscou-se, a partir deste instrumento, verificar quais elementos apresentam maior importância em relacionamentos amorosos. Quanto menor a média, mais importante é o elemento para os participantes. A média geral foi de 6,43 (DP = 2,06). Conforme a Tabela 4, para o sexo masculino, os cinco elementos mais importantes no relacionamento amoroso foram: 1. Amor; 2. Beleza Física; 3. Fidelidade; 4. Companheirismo e 5. Relação Sexual. O sexo feminino apontou os seguintes elementos: 1. Amor; 2. Companheirismo; 3. Fidelidade; 4. Compromisso e 5. Inteligência.
Para o grupo de modelos, os elementos mais importantes foram: 1. Amor; 2. Fidelidade; 3. Beleza Física; 4. Companheirismo e 5. Relação sexual. Já o grupo de não modelos apontou a seguinte sequência: 1. Amor; 2. Companheirismo; 3. Fidelidade; 4. Compromisso e 5. Intimidade.
Observaram-se diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) entre as médias por sexo, atribuídas aos elementos: “companheirismo”, “compromisso”, “beleza física” e “relação sexual”. Com relação aos grupos de modelos e não modelos, os elementos que apresentaram diferença estatisticamente significativa foram: “companheirismo”, “relação sexual”, “beleza física” e “senso de humor”, conforme se observa na Tabela 4. Os valores diferenciados dos graus de liberdade na Tabela 4 ocorreram pelo seguinte motivo: na escala de importância, dos 20 elementos apresentados, os participantes deveriam escolher os 10 elementos mais importantes associados à relacionamentos amorosos, e dentro os 10 elencar a importância de cada um deles, numa escala de 1 a 10 (do mais importante ao menos importante). Por este motivo, muitos elementos não apresentam escores pois não foram citados, de acordo com o sexo e grupo, bem como outros apresentam gl muito baixos, pois foram contabilizados por poucos participantes.
Tabela 4
Dimensões de Relacionamentos Amorosos | Sexo
|
Grupo
|
||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Masc.
|
Fem.
|
t | gl | p | Modelo
|
Não-Modelo
|
t | gl | p | |||||
M | DP | M | DP | M | DP | M | DP | |||||||
Amor | 3,02 | 2,61 | 2,50 | 2,66 | 1,05 | 114 | 0,29 | 2,70 | 2,48 | 2,81 | 2,80 | 0,23 | 113 | 0,82 |
Companheirismo | 4,51 | 3,07 | 3,12 | 2,51 | 2,59 | 101 | 0,01 | 4,44 | 2,94 | 3,16 | 2,67 | 2,41 | 107 | 0,01 |
Desconforto | - | - | 6,50 | 3,53 | - | - | - | 6,50 | 3,53 | - | - | - | - | - |
Sedução | 7,22 | 2,54 | 7,19 | 2,29 | 0,50 | 63 | 0,96 | 7,56 | 2,42 | 6,98 | 2,37 | 0,98 | 54 | 0,33 |
Infidelidade | 10,00 | - | 5,33 | 3,78 | 1,06 | 2 | 0,40 | 6,50 | 3,87 | - | - | - | - | - |
Compromisso | 5,89 | 2,12 | 4,63 | 2,27 | 2,88 | 98 | 0,005 | 5,67 | 2,14 | 4,96 | 2,34 | 1,59 | 99 | 0,11 |
Fidelidade | 4,25 | 2,33 | 4,06 | 2,52 | 0,43 | 103 | 0,66 | 3,76 | 2,23 | 4,56 | 2,29 | 1,82 | 103 | 0,07 |
Inteligência | 7,10 | 2,64 | 6,32 | 2,39 | 1,35 | 81 | 0,18 | 6,95 | 2,46 | 6,46 | 2,80 | 0,84 | 79 | 0,40 |
Paixão | 5,91 | 2,29 | 6,00 | 2,71 | 1,77 | 88 | 0,86 | 5,98 | 2,69 | 5,96 | 2,34 | 0,08 | 86 | 0,93 |
Insegurança | 6,00 | - | - | - | - | - | - | 6,00 | - | - | - | - | - | - |
Beleza física | 4,10 | 2,78 | 6,16 | 2,51 | 3,61 | 83 | 0,001 | 3,95 | 2,39 | 6,90 | 2,61 | 5,21 | 58 | < 0,001 |
Prisão | - | - | 10,00 | - | - | - | - | 10,00 | - | - | - | - | - | - |
Estabilidade econômica | 6,69 | 2,39 | 7,46 | 2,13 | 0,99 | 21 | 0,33 | 6,81 | 2,25 | 7,65 | 2,16 | 1,22 | 39 | 0,23 |
Desconfiança | 9,00 | - | - | - | - | - | - | 9,00 | - | - | - | - | - | - |
Senso de humor | 7,24 | 2,37 | 6,96 | 2,15 | 0,62 | 94 | 0,53 | 7,74 | 1,87 | 6,52 | 2,45 | 2,75 | 91 | 0,007 |
Intimidade | 5,62 | 2,32 | 5,98 | 2,11 | 0,83 | 99 | 0,41 | 6,12 | 2,03 | 5,48 | 2,36 | 1,47 | 98 | 0,14 |
Desinteresse | 6,50 | 0,71 | - | - | - | - | - | 6,50 | 0,71 | - | - | - | - | - |
Relação sexual | 4,57 | 2,40 | 6,73 | 2,43 | 4,74 | 111 | < 0,001 | 5,02 | 2,65 | 6,27 | 2,52 | 0,82 | 112 | 0,01 |
Semelhança | 6,97 | 2,40 | 9,07 | 2,28 | 1,97 | 63 | 0,05 | 7,78 | 2,34 | 7,42 | 2,44 | 0,92 | 70 | 0,52 |
Mentira | 10,00 | - | 10,00 | - | - | - | - | 10,00 | - | - | - | - | - | - |
Os elementos “companheirismo” e “compromisso” foram considerados mais importante para o sexo feminino do que para o sexo masculino, de acordo com o teste t de Student, respectivamente, t(101) = 2,59; p < 0,01 e t(98) = 2,88; p < 0,01. Por sua vez, os elementos “relação sexual” e “beleza física” foram considerados mais importantes para o sexo masculino do que para o sexo feminino.
Com relação aos grupos, segundo a Tabela 4, os elementos “companheirismo” e “senso de humor” foram considerados mais importantes para o grupo de não modelos do que para o grupo de modelos, de acordo com os resultados do teste t de Student, respectivamente, t(107) = 2,41; p < 0,01 e t(91) = 2,75; p < 0,01. Os elementos “relação sexual” e “beleza física” foram considerados mais importantes para o grupo de modelos do que para o grupo de não modelos, de acordo com o teste t de Student, respectivamente, t(112) = 0,82; p < 0,01 e t(58) = 5,21; p < 0,0001.
Instrumento de afirmações
A média geral dos participantes foi de 2,97 (DP = 1,20). A Tabela 5 indica,a partir dos itens com média acima da média geral que os participantes, de modo geral, acreditam que pessoas bonitas buscam estabelecer relacionamentos amorosos com pessoas que também sejam bonitas (Item 1), e que a beleza física é fundamental para iniciar um relacionamento amoroso (Item 3). Além disso, pensam que as pessoas buscam estabelecer relacionamentos amorosostendo por critério inicial a beleza física da outra pessoa (Item 4), e que os homens valorizam mais a beleza física do que as mulheres no estabelecimento de relacionamentos amorosos (Item 8). Também concordam que as pessoas tentam estabelecer relacionamentos amorosos com pessoas que tem uma beleza semelhante à sua (Item 9).
Tabela 5
Itens | M | DP |
---|---|---|
1. Pessoas bonitas buscam estabelecer relacionamentos amorosos com pessoas que também sejam bonitas. | 3,57 | 1,01 |
2. Acho que uma pessoa bonita não namoraria alguém que não fosse bonito (a). | 2,70 | 1,32 |
3. Acredito que a beleza física é fundamental para iniciar um relacionamento amoroso. | 3,03 | 1,41 |
4. Penso que as pessoas buscam estabelecer relacionamentos amorosos, tendo por critério inicial a beleza física da outra pessoa. | 3,48 | 1,18 |
5. Sinto que as pessoas querem se relacionar amorosamente com outras pessoas por causa da beleza física. | 3,43 | 1,19 |
6. Penso que a beleza física não influencia no estabelecimento de um relacionamento amoroso. | 2,19 | 1,32 |
7. Acho que a beleza física atrapalha na sinceridade, no momento de estabelecer um relacionamento amoroso. | 2,18 | 1,29 |
8. Acredito que os homens valorizam mais a beleza física do que as mulheres no estabelecimento de relacionamentos amorosos. | 3,76 | 1,25 |
9. Acho que as pessoas tentam estabelecer relacionamentos amorosos com pessoas que tem uma beleza semelhante à sua. | 3,16 | 1,15 |
10. Acredito que as mulheres valorizam mais a beleza física do que os homens no estabelecimento de relacionamentos amorosos. | 2,28 | 1,16 |
Tanto para o sexo feminino como para o masculino os itens já apontados foram importantes para a caracterização de sua forma de pensar a relação da beleza física com o relacionamento amoroso. No entanto as mulheres destacaram um item a mais, o 5 (crença de que as pessoas desejam se relacionar amorosamente pela beleza física da outra pessoa); diferentemente dos homens que destacaram o 2 (crença de que uma pessoa bonita não namoraria alguém que não fosse bonito).
A comparação entre osgrupos de modelos e não modelos, indicou que eles compartilham duas ideias: a de que pessoas bonitas buscam estabelecer relacionamentos amorosos com pessoas que também sejam bonitas (Item 1), e a de que os homens valorizam mais a beleza física do que as mulheres no estabelecimento de relacionamentos amorosos (Item 8). Mas o grupo de modelos ainda apresenta como fortes as seguintes crenças: a de que uma pessoa bonita não namoraria alguém que não fosse bonito (Item 2), a de que a beleza física é fundamental para iniciar um relacionamento amoroso (Item 3), e ainda a de que as pessoas desejam se relacionar amorosamente pela beleza física da outra pessoa (Item 5).
Discussão
Os resultados desta pesquisa correlacionaram-se a partir da organização dos dados, atrelando as RS da beleza física e relacionamentos amorosos, usando também a teoria da atração interpessoal como teoria explicativa para o estudo, correspondendo aos componentes afetivos das relações sociais, manifestando-se pela seleção de indivíduos por quem busca-se aproximação ou afastamento (Alferes, 2004; Berscheid & Walster, 1973). Estudos já foram realizados visando descrever as variáveis que definem a satisfação das pessoas em suas relações amorosas, bem como os atributos que são priorizados em relacionamentos amorosos (Féres-Carneiro, 1997; Mosmann, Wagner, & Féres-Carneiro, 2006; Olson, 2000; Wachelke, De Andrade, Cruz, Faggiani, & Natividade, 2004). Essas pesquisas indicam que a qualidade e atributos relacionados aos relacionamentos são multideterminados, vinculados a uma série de variáveis, tanto individuais quanto relacionais e contextuais.
Dentre os elementos considerados nas escalas, o “amor” obteve um dos maiores escores nas escalas de identificação e importância. O conceito relativo ao amor, dentro da perspectiva psicológica, é compreendido como um sentimento multidimensional, estrutural e dinâmico (Cassepp-Borges & Teodoro, 2009; Engel, Olson, & Patrick, 2002), e não apenas um conceito filosófico ou metafísico (Cassepp-Borges & Teodoro, 2007; Hendrick & Hendrick, 2006; Mosmann et al., 2006; Sternberg & Weis, 2006; Wachelke, De Andrade, Souza, & Cruz, 2007).
A forma como o indivíduo sente, pensa e vivencia o amor relaciona-se diretamente com seu conjunto de crenças, saberes, imagens, atitudes e comportamentos frente a este objeto social, e consequentemente com sua forma de relacionar-se amorosamente. Em estudo sobre as representações sociais do amor e da dor, da Nóbrega, Fontes e Paula (2005) verificaram que as RS doamor socialmente partilhadas trazem em seu cerne às funções representacionais (orientação na comunicação, edificação de condutas, identitária e justificadora). Ou seja, o modo como o indivíduo compreende e valoriza o amor traz consigo um conjunto de modos de compreensão de como relacionar-se amorosamente com parceiros(as).
O elemento ‘compromisso’ apresentou maior importância para o sexo feminino do que para o sexo masculino, o que demonstra uma diferenciação no que homens e mulheres consideram mais importantes em um relacionamento amoroso. O companheirismo está associado ao amor, e está presente no conjunto de aspectos interpessoais dos relacionamentos amorosos (Rubin, 1970; Sternberg, 1989).
De acordo com os resultados da escala de importância, para os homens e para o grupo de modelos, os elementos “relação sexual” e “beleza física” apresentaram maior importância do que para as mulheres e o grupo de não modelos, além de fazer parte dos 5 elementos mais importantes. Para o sexo masculino e para o grupo de modelos, os relacionamentos amorosos trazem mais elementos que se associam ao amor tipo “paixão”, com um posicionamento mais afetivo-sexual, enquanto o sexo feminino e o grupo de não modelos enfatizam mais elementos que se associam ao amor tipo “companheiro”. Conforme os resultados de estudos de De Andrade e Garcia (2012) e de Berscheid e Walster (1973), o amor mais profundo e companheiro é menos focado em aspectos sexuais.
Dois aspectos necessitam ser considerados para a importância destes elementos pelos homens: implicações evolutivas e culturais. Sabe-se por pesquisas no campo da psico-fisiologia e psicologia evolucionista (Buss, 1994, 2006; Buss & Barnes, 1986; Buss & Schmitt, 1993) que os homens tendem a procurar parceiras mais jovens e belas, sendo estes atributos que apontam boa saúde reprodutiva. Com relação ao ato sexual, enquanto as mulheres necessitam fazer uma boa opção por um parceiro, com viés reprodutivo, os homens tendem a relacionar-se com mais parceiras, o que os traria maior sucesso reprodutivo. Embora hoje a sexualidade seja um tema de maior abertura, ainda o sexo masculino possui maior liberdade sexual para relacionarem-se com parceiras, enquanto as mulheres ainda são vistas de modo negativo quando se relacionam com muitos homens. Por sua vez, a cultura traz em seus discursos a perspectiva de que o homem deve ter sucesso e status, enquanto a mulher deve ser bela, além de que as representações sociais de amor e relação sexual são diferenciadas em função do gênero, influenciando também a dimensão do relacionamento amoroso e práticas afetivo-sexuais (Amaral & Fonseca, 2006; Giacomozzi & Camargo, 2004). Estudo realizado por Barbará e Bertoldo (2006) sobre representação social do namoro para jovens indicou que, de modo geral, as mulheres evocavam elementos voltados à confiança e afeto, enquanto os homens evocavam sexo.
A “relação sexual”, presente na escala de identificação e como um dos elementos mais importantes para o sexo masculino e grupo de modelos, é vista como algo importante em um relacionamento amoroso, e os indivíduos tendem a ter mais de uma relação amorosa, o ato sexual pode vir a ocorrer com mais de um parceiro (a) ao longo da vida. Tal perspectiva vai ao encontro de pesquisas nacionais (Féres-Carneiro, 1999; Jablonski, 1998) que apontam que tanto jovens universitários quanto indivíduos de diferentes faixas etárias não consideram mais a virgindade um elemento essencial para o casamento, podendo inclusive prejudicar os relacionamentos, devido à falta de experiência.
Contudo, os atos amorosos também são regulados por normas sociais que podem ser diferentes para homens e mulheres, conforme se verificou nos resultados. Por exemplo, existem evidências de que a quantidade de parceiros sexuais é diferente para homens e mulheres (Silva, 2006). Além disso, a importância do sexo dos participantes parece ser um forte determinante dos sentimentos e práticas amorosas e deve ser levada em consideração (Hendrick & Hendrick, 1986).
A “fidelidade” também foi um elemento trazido pelos grupos e sexos. A importância e identificação da fidelidade para relacionamentos amorosos vão ao encontro do que discorre Goldenberg (2006) ao enfatizar que a fidelidade permanece como um valor para a sociedade, apesar das enormes mudanças nas relações afetivo-sexuais na contemporaneidade.
Os elementos “intimidade”, “paixão” e “compromisso” obtiveram médias significativas na escala de identificação, sendo o “compromisso” considerado um dos cinco elementos de representação social mais destacados na escala de importância para o sexo feminino, e os elementos “intimidade” e “compromisso” para o grupo de não modelos. Tais elementos constituem uma teoria bastante utilizada nos estudos sobre a psicologia do amor, a Teoria Triangular do Amor, proposta por Sternberg (1986, 1989).
A partir da escala de afirmações sobre a influência da beleza física no estabelecimento de relacionamentos amorosos, verificou-se que as RS deste objeto na gênese de vínculos amorosos tem sido central, influenciando diretamente nas escolhas afetivas. Elementos como semelhança e beleza física, que compõem a teoria da atração interpessoal, puderam ser verificados nas respostas dos participantes. A questão da semelhança (buscar parceiros com beleza semelhante) corrobora com estudos (Berscheid & Reis, 1998; Buston & Emlen, 2003) que apontam a semelhança como um elemento que torna mais provável a aproximação e atração entre parceiros.
Hatfield e Sprecher (1995) apontam que a atração física se constitui como um orientador concreto para a atração interpessoal, afirmação observada no estudo de Aronson, Wilson e Akert (2002), que verificou em 72 pares de estudantes que a atração física foi o fator principal na atração interpessoal. Para Swani e Furham (2008), a aparência física é apenas um dos elementos que influencia na atração interpessoal, não podendo ser analisada separada do contexto social em que ocorre este relacionamento.
O fato de a beleza física ser fundamental para o sexo masculino e não possuir a mesma centralidade para o sexo feminino já foi verificado em outros estudos (Borrione & Lordelo, 2005; Buss, 2006; Féres-Carneiro, 1997; Fisher, 1995). Em estudo recente realizado por Gomes, Gouveia, Silva Júnior, Coutinho e Santos (2013) sobre a escolha do(a) parceiro(a) ideal por heterossexuais, os resultados apontaram que os homens apreciam atributos que enfocam qualidades reprodutivas das mulheres (atlética), enquanto as mulheres apreciam atributos mais relacionados com os cuidados que os homens podem apresentar com elas e seus descendentes (afetuosa, sociável e tradicional).
Tendo em vista a influência que a beleza física possui no estabelecimento de relacionamentos amorosos, isto interfere diretamente nas vivências do corpo, indo ao encontro do estudo de Jodelet et al. (1982) que aponta o corpo como mediador do lugar social dos indivíduos, sendo que as RS do corpo fazem com que os indivíduos assumam padrões de pensamento e comportamento relacionados ao mesmo. Segundo Camargo, Goetz, Bousfield e Justo (2011) a beleza é evidenciada como um padrão socialmente estipulado, sendo portanto, um objeto com influência social.
Considerações Finais
O estudo constatou a importância que a beleza física possui na gênese de relacionamentos amorosos, bem como de outros elementos que compõem a representaçãosocial acerca deste tipo de relacionamento. Tal proposição parte dos resultados, corroborando com estudos internacionais apresentados ao longo do artigo.
Verificou-se também a necessidade de estudos com outras populações, trazendo assim maior solidez de resultados para este estudo no âmbito nacional. Também se constatou a carência de estudos nacionais na área da atração interpessoal, sendo este um importante campo do conhecimento da psicologia social, que necessita maiores investigações no Brasil.
Além disso, estudos sobre relacionamentos amorosos, à luz da teoria das representações sociais,se tornam pertinentes, pois os significados socialmente elaborados pelos indivíduos sobre tais relações perpassam diretamente na forma como estes estabelecem relações amorosas e como se relacionam afetivamente com seus parceiros, buscando normalmente relacionamentos que estejam de acordo com suas crenças e valores, elaborados e compartilhados por indivíduos de seu contexto social. As representações sociais de relacionamentos amorosos permitem abarcar estudos que contribuam na compreensão da forma que estes indivíduos irão avaliar e discriminar suas relações, bem como quais atributos são levados em consideração no estabelecimento de relacionamentos amorosos, tais como a beleza física, por exemplo.